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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Que bom que você me encontrou!

Ou melhor, QUE BOM QUE NOS REENCONTRAMOS.

(Na foto acima, Cristina e eu, ou Eu e Cristina)


Nasci em Belém, do Pará, precisamente no Hospital Santa Helena, aos dez minutos das dez horas do dia quatro de dezembro de mil novecentos e cinquenta e sete. Por coincidência, Dia Mundial da Propaganda. Sou filho de Jesus Andres Vásquez Marcano e Josefa Martins de Souza Vásquez, ele adido do Consulado da Venezuela e ela uma Professora primária (hoje diríamos do Ensino Fundamental). Se conheceram de forma muito interessante. Eu conto:

Meu pai estava a serviço da Embaixada Venezuelana numa missão especial em nosso país mais ou menos por volta de 1950. Minha mãe, na companhia de sua amiga Thelma, visitava pela primeira vez a cidade grande (acredite, esta é uma referência a cidade de Boa Vista, há época Distrito Federal). Minha mãe vinha de uma pequena localidade, Catrimani, no interior de Roraima onde meus avós maternos, cearenses, Venâncio José de Souza e Adalgisa Martins de Souza, viviam com a família no seringal. Mamãe era a única professora daquele pequeno povoado.

Meu avô, Venâcio, contratava professores em Boa Vista e Manaus para darem aulas aos seus filhos. Minha mãe tornou-se professora para alfabetização de adultos com 12 anos de idade.

Como presente, por completar 15 anos, minha mãe ganhou passagens de barco para conhecer a "cidade grande". Lá chegando, num passeio pelo centro da cidade, minha mãe viu um senhor (naquela época um homem com mais de 30 anos era um senhor - rss) que se dirigia a um edifício (um prédio de 3 andares). Praticamente arrastando a Thelma pelas mãos, enfrentando os protestos desta, minha mãe seguiu aquele homem até o local. Tratava-se de um Hotel de luxo. Indo até a recepção, num ímpeto de minha mãe, fez perguntas sobre o homem desconhecido de ambas, fez perguntas sobre a origem do homem e outras curiosidades. Enquanto perguntava, percebendo falarem sobre a sua pessoa, Dom Vásquez retornou à recepção e iniciou uma conversa em Espanhol com minha mãe (que nunca havia estudado ou ouvido aquele idioma). Thelma não compreendia o que estava acontecendo. Durante a conversa aquele homem fez anotações. Saíram ambas daquele local e, já na calçada, Thelma perguntou de minha mãe o que haviam conversado ao que Josefa respondeu não saber do que se tratava, pois não lembrava de nada além da primeira imagem daquele "senhor". Thelma explicou para Josefa o que havia acontecido e ela, sem entender os fatos disse apenas que sentira uma tonteira e que não se lembrava de nada e muito menos falava outra língua que não o português. Passados os dias de férias na "cidade grande", Josefa voltou para o interior, Catrimani.

Após alguns meses, enfrentando a dificuldade do idioma e as adversidades de uma viagem de barco por mais de 3 dias, chegou àquele povoado no distante interior da Amazônia, Dom Vásquez, para pedir Josefa em casamento. O que não permitiu meu avô, por achar meu pai muito velho para sua filha, uma diferença de 18 anos, e que Josefa era apenas uma criança de 15 anos. Meu pai fez a viagem de volta à Boa Vista (Brasil), depois Santa Helena (Venezuela) sem esperanças de poder casar com aquela mulher que ele já chamara de Mamita.

Em 1952 o Consulado da Venezuela solicitava a presença de Dom Vásquez em Manaus para uma missão diplomática, o que ele acatou "sem embargo". Alguns meses antes, minha mãe havia retornado à casa de seu padrinho e pai do coração, Aluisio Marques Brasil, para retomar seus estudos. A família Brasil morava na Av. 7 de Setembro, ao lado da antiga sede da Prefeitura de Manaus. Foi naquela "casa grande" (6 quartos no piso superior e 8 no inferior - lembrando que os quartos do piso superior mediam 5m x 6m com o pé direito de 4m. Não se constroem mais casas assim em Manaus há décadas. Lembro-me bem da sala de estar medindo 13m x 6m, onde sempre realizávamos as festas da família, morei com meu avô do coração e esta maravilhosa família no início dos anos 70, falarei sobre isso mais a frente). Minha mãe logo que retornou foi assediada por um bonito rapaz que a todos cativou e a ela também. Contudo, minha mãe confidenciava às suas amigas que não gostava dele e que não estava feliz com o noivado (não guardou nenhum registro destes momentos com o César). Foi em meio a estes acontecimentos que minha mãe reencontrou o grande amor de sua vida, Dom Vásquez.

Com uniforme de "normalista" minha mãe retornava do Colégio Santa Dorotéia, localizado à Rua Joaquim Nabuco, descendo à Av. Sete de Setembro (que naqueles dias do Século passado, o trânsito mantinha a mão dupla) a caminho da residência dos Brasil, quando ouviu uma voz forte chamar por seu nome e um epíteto: “Josefa, Josefa. Mamita, Mamita!”. Minha mãe estancou os passos e a pronúncia (Rocefa, Rocefa) acelerou seu coração. Nervosa, não quis olhar para o carro do outro lado da rua de onde vinha aquele som. Josefa permaneceu parada alguns segundos e não resistiu àquela vontade de ver seu Dom Vásquez. Jesus desceu do carro e foi até Josefa. Suas primeiras palavras em “portuñol” foram:

 “Eu não vou perder você novamente, agora já és de maior e podes casar. Casa comigo Josefa?”.

Ao retornar para a residência dos Brasil, minha mãe conversou com seu padrinho Aluísio e contou sua história. Vovô Aluísio, assim eu o chamava, foi compreensivo e auxiliou minha mãe na tarefa de desmanchar o compromisso de noivado assumido com o César. Alguns meses depois, ela casou-se com Jesus.

Minha mãe contava que meu pai era um homem maravilhoso, querido por todos e que possuía muitos amigos. No ano seguinte ao casamento, o Consulado Venezuelano mudou-se para o Rio de Janeiro e o casal deixou Manaus para se adaptar àquela grande cidade. E foi justamente nesta cidade que minha mãe ficou conhecendo a explicação do início daquele relacionamento. Começa assim:

Chovia muito naquela noite e minha mãe chorava com dor de dente. À tarde meu pai havia levado minha mãe ao dentista e este a examinara sem encontrar nenhum problema dentário que pudesse justificar as dores que ela reclamava. Recomendou um tipo de analgésico e dispensou a paciente. Naquela noite, por volta de 19h30 as dores ficaram mais intensas e a vizinha, Dona Norma, informou que achava estranho a dor de dente e a febre que minha mãe apresentava e sugeriu que meu pai levasse minha mãe até uma conhecida seara, em Vila Isabel, para que o Sr. Manuelzinho rezasse nela. Meu pai assim o fez. Chegaram à seara às 21h e foram recebidas por “Seo Manelzinho” que lhes disse:

- Mi zifio, suncê demorô...

Após estas palavras, o homem começou a tremer e em seguida sentou-se num banquinho de madeira. Minha mãe simultaneamente fechou os olhos e desmaiou. Poucos segundos depois, o homem ficou normal e se pôs de pé. Falou com voz natural e explicou para o meu pai que a minha mãe estava passando uma prova cármica e que os Guias Espirituais dela estavam ali para iniciá-la. Cabia a ele (meu pai) a missão de educá-la e ensinar a lidar com a mediunidade que minha mãe trouxera para esta vida.

Enquanto falavam, minha mãe foi levantando lentamente e começou a falar em espanhol com meu pai.

- Meu nome é Caboca Patauá. Fui em minha vida mais recente em 1720, uma índia venezuelana. Fui eu quem conversou contigo naquela tarde na cidadezinha, quando minha filha estava na companhia da moça Thelma. Como você já descobriu, ela não falava seu idioma naquela época. Foi necessário aquele fenômeno para não perdermos a oportunidade que se apresentou. Mas, por muito pouco, aquele velho não bota tudo a perder. Você estava predestinado para ela, juntos terão três filhos, duas mulheres e um homem, porém apenas o casal irá cruzar o século. Isso é um ajuste de milênios.

Aquele espírito se despediu de meu pai e logo sem seguida outro se manifestou, desta vez falando em português.

- Eu sou o Tucuxi do Mar. Estou aqui para dar as boas-vindas! Temos muito trabalho para fazer através deste “cavalo” (maneira de alguns espíritos da Umbanda se referirem a seus médiuns). Você tem a missão de convencê-la a trabalhar para a espiritualidade.

Conversou outras coisas com meu pai, respondeu às perguntas que ele fez e depois se despediu. Após um prolongado suspiro, outro espírito se manifestou falando em espanhol com meu pai:

- Meu nome é Guadalupe, mas todos me chamam apenas de Ciganhinha. Faço parte do grupo de espíritos guias de tua mulher. Deixe-me ver as linhas de tua mão (e pegou na mão esquerda de papai e depois na direita, analisando atentamente as duas palmas). Xiiii, não ficarás muitos anos mais aí na terra. Tua missão está quase concluída.

Meu pai conversou bastante com a Ciganinha, fez várias perguntas e a todas obteve respostas inteligentes e elucidativas. Ficou muito impressionado com a inteligência daquela personalidade que se identificava como uma cigana, embora confessasse que fora roubada de seus pais, ainda criança, por uma caravana de ciganos que passara por Santa Cruz de La Palma, na Espanha, em 1846. Ao longo da vida de minha mãe, este espírito fora muito presente em várias situações. Depois de bastante tempo de conversa este espírito se despediu dizendo que precisava dar passagem àquele que era o guia principal de Josefa, Pai João de Angola. Com este, meu pai conversou mais demoradamente e recebeu instruções valiosíssimas para a sua atual encarnação e de como deveria se comportar para convencer Josefa a seguir a doutrina Espiritualista.

Às 2h, naquela madrugada, minha mãe acordou dos transes e estava sem nenhuma dor ou febre. As duas entidades que tomaram cachaça, Tucuxi do Mar e Pai João de Angola, não deixaram nenhum cheiro de bebida no hálito de minha mãe, bem como ela não aparentava ter ingerido tanta cachaça. Pai João disse a meu pai que em breve eles mudariam para uma cidade distante dali, porque as crianças deveriam nascer, por questões simbólicas e cármicas, em outro local.

Em 1954 o Consulado Venezuelano mudou-se para Belém do Pará.

Naquela época o Grão Pará era soberano no Norte, diziam até que o Brasil ia até Belém e que terminava por ali mesmo e que a civilização pouco existia abaixo da cidade paraense. Foi para lá que meu pai e minha mãe foram morar.

Poucos meses depois da mudança, minha mãe ficou grávida de sua primeira filha, Maria do Rosário, que nasceu enrolada no cordão umbilical e faleceu seis horas após o parto.

Em 28 de abril de 1956 nascia a minha irmã Marta, saudável e bonita criança para a felicidade de nossos pais. O nome de minha irmã deve-se à devoção de mamãe a Santa Marta. Com medo de perder a criança e viver o drama de sua primeira filha, minha mãe fez a promessa de colocar o nome Marta em sua filha se a criança nascesse saudável e perfeita.

Por que tenho este nome?

No ano seguinte, no dia 4 de dezembro, nasci, também em Belém, capital do Pará.  Conto pra vocês na sequência.


(texto em construção)